Dia das Mães no mercado imobiliário: profissionais contam como conciliam trabalho com a maternidade
Resumo
No dia das mães, lembramos das mães do mercado imobiliário e trazemos relatos da vida de como cada uma encara essa dupla função.
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Independentemente de ser corretora autônoma ou executiva de uma grande rede, toda mulher que é mãe trabalha no mercado imobiliário “sabe a dor e a delícia” de conciliar o exercício da maternidade a seus compromissos profissionais. Brincadeiras à parte, deixando um pouco a música de Caetano Veloso de lado, fato é que as mães do mercado imobiliário têm muitas lições de resiliência para compartilhar, mostrando que é possível ser uma profissional competente e uma mãe dedicada ao mesmo tempo.
Aliás, levantamento realizado pelo movimento Mulheres do Imobiliário em parceria com o DataStore, entre os dias 11 de setembro de 2020 e 22 de janeiro de 2021, aponta que 70,2% das 803 mulheres consultadas para a pesquisa são mães. Desse total, 56% avaliam que não tiveram dificuldades para se estabelecer no mercado novamente após se tornarem mães. Ainda assim, mesmo que não haja estatísticas a respeito especificamente sobre esse assunto, pode-se dizer com que a maternidade mudou a percepção de todas elas a respeito do trabalho e do mercado imobiliário em si.
Por isso, para celebrar o Dia das Mães no mercado imobiliário, ouvimos nove profissionais que atuam no setor, que nos contaram suas experiências conciliando a maternidade e sua atividade profissional.
Denise Vieira, 41 anos
Sócia e consultora da CUPOLA; mãe da Alice, de 7 anos.
“Trabalho no mercado imobiliário há 19 anos e minha filha foi planejada quando completei 33 anos de idade. A maternidade trouxe para mim muitas mudanças, especialmente mudanças internas, começando pela transformação do corpo. Como tive uma gestação muito tranquila, trabalhei durante toda a gestação até na sexta-feira anterior ao nascimento da Alice (ela nasceu num domingo).
Eu imaginava que após o parto, estaria novamente à ativa no máximo em dois meses. A primeira semana que sucedeu ao nascimento da Alice já me mostrou que tudo seria muito diferente a partir dali. É uma mudança que vai muito além da rotina e até minha atuação no mercado imobiliário mudou muito: me tornei muito mais sensível na minha relação com os clientes e com minha equipe. Me tornei mais humana, mais empática. Passei a entender mais as necessidades dos outros, a escutar mais, a ter mais sensibilidade nas relações interpessoais profissionais.
A princípio, minha impressão foi que estava atrás dos meus sócios homens porque não conseguia ter a presença física que tinha antes da maternidade, com o tempo percebi que ganhei muito porque ao mergulhar em todos os desafios internos que a maternidade me chamou, eu tornei a minha presença de maior qualidade, o que me possibilitou um salto pessoal e profissional”.
Roberta Bigucci, 50 anos
Diretora da MBigucci; mãe de Felipe, 21 anos, Matheus, 17 anos, Thiago, 14 anos, e Marcela, 9 anos.
“Como somos uma construtora familiar, iniciei na MBigucci aos 15 anos, completando 35 anos de empresa neste mês de maio. Ao todo, tenho mais três irmãos (todos também diretores na MBigucci), mas sou a única mulher e fui a primeira a ter filhos. Já na época do nascimento do meu primeiro filho, com 17 dias de maternidade, cansei de ficar em casa e voltei a trabalhar. Coloquei o Felipe no carrinho e fui para a empresa. Arrumei um espaço baby na minha sala, com bercinho e um biombo para trocar ou amamentar, e lá ficamos por mais de um ano. Somente quando parei de amamentar, meu filho ficou com a minha mãe durante o dia, mas até então, o Felipe era o mais novo funcionário da MBigucci (risos).
Depois disso, todos os meus filhos me acompanharam em compromissos de trabalho, como palestras e reuniões do Secovi. As pessoas não levam porque não é comum, mas eu nunca perguntei se podia. Eu levava e pronto. Se alguém me falasse que não poderia, eu iria embora, mas isso nunca aconteceu. Claro que eu me preocupava muito com o respeito no local em que eu estava. A qualquer sinal de choro ou resmungo, eu saía imediatamente da sala, ou colocava o bebê para mamar. Mas, de forma geral, não existe essa flexibilidade no mercado imobiliário (e em nenhum outro setor). O que existe são pessoas ‘cara de pau’ como eu. Que leva e vê o que vai dar”.
Maria Cristina Oliveira Moura Valle, 57 anos
Sócia do escritório de arquitetura Visionera; mãe de Letícia, 30 anos, e Thaís, 29 anos.
“Em minha trajetória no mercado imobiliário, já fui vice-presidente da construtora Caparaó, que era a maior aqui em Belo Horizonte na época, além de ter sido diretora de projetos, arquiteta e acionista da empresa. Porém, vendi minhas ações e hoje tenho uma empresa de projetos, que se chama Visionera e que trabalha para as construtoras e para o mercado imobiliário de forma geral. E é uma empresa formada por mim e pelas minhas duas filhas, que também são arquitetas e seguiram a minha carreira.
Então, me sinto vitoriosa, não só na vida profissional, mas também na relação com a própria maternidade. Sempre separei muito as coisas e minhas filhas sempre me viram de uma maneira muito profissional e falavam que nunca pensaram em outra profissão porque viam que eu era muito feliz no que fazia.
Agora na pandemia, tenho recebido muito apoio delas no trabalho. Tenho feito muito home office, mas elas vão muito na empresa. Inclusive, este é um lado muito bacana de trabalhar com as minhas filhas porque elas tocam a empresa, então a gente tem conseguido trabalhar muito bem, estamos com muitos projetos, pois a pandemia acabou aquecendo muito o nosso mercado”.
Haaillih Bittar, 42 anos
Managing Director na Tishman Speyer; mãe de Pedro Jorge, 11 anos, e Felipe Jorge, 7 anos.
“Já atuava no mercado imobiliário quando me tornei mãe, em 2009, e sempre tive uma agenda bastante corrida. Por isso, tenho bastante ajuda com a rotina diária dos meus filhos. Trabalhamos como um verdadeiro time: eu, meu esposo, meus pais e a Cleide Santos, babá dos meus filhos. Em certas situações, contamos também com minha irmã e meu cunhado. Ainda assim, mesmo com todo o apoio, faço questão de ter meu momento de qualidade com Pedro Jorge e Felipe Jorge todos os dias.
No entanto, a pandemia tem trazido desafios enormes, além de grande tristeza pelo distanciamento necessário e pelas inúmeras vidas perdidas. Para mim, que sempre tive ajuda, me ver de uma hora para a outra sem ninguém, além do nosso núcleo familiar, foi um choque. Aulas online foram especialmente desafiadoras para o meu filho mais novo, de 7 anos. Para o mais velho, a ausência de contato com os amigos foi o que mais o entristeceu.
Mas, também passamos por um grande aprendizado. Em casa, passamos a dividir as tarefas domésticas. Além disso, passamos a ter um olhar mais voltado ao que é essencial, curtimos mais momentos juntos. Almoçar com meus filhos todos os dias tem sido o lado bom de trabalhar de casa”.
Raquel Castegnaro Trevisan, 47 anos
Gerente de Marketing da Imóveis Crédito Real; mãe da Valentina, de 17 anos.
“Trabalho no mercado imobiliário há mais de 20 anos, então a Valentina nasceu nesse meio. Acredito que a mulher se torna uma profissional muito melhor após a maternidade. Ficamos mais focadas porque precisamos dar conta de mais uma tarefa (a mais complexa e importante), que é ser mãe. Além disso, temos uma nova percepção como gestoras, um novo olhar, muito mais empático.
No caso das corretoras, acredito que há uma maior flexibilidade de horários, mas, nos demais setores da área, como administrativo por exemplo, essa não é uma realidade. Temos muito o que evoluir ainda, pois as empresas do mercado imobiliário são dominadas por gestores homens e não possuem gestões flexíveis e com esse olhar empático.
Nesse período de pandemia, a questão do homeschooling não foi um problema para mim, pois minha filha já é adulta. Na verdade, tirando toda a tragédia da pandemia em si, esse período em casa, com ela estudando e eu trabalhando, foi muito especial pra mim e para a Valentina. Eu nunca havia passado tanto tempo junto com ela. Aprofundamos a nossa relação, conversamos muito uma com a outra e pude acompanhar muito mais de perto a escola e os professores. Foi um período muito especial, principalmente agora que iremos morar longe uma da outra em função do meu novo trabalho e de ela estar prestes a entrar na faculdade. Posso dizer que foi uma linda ‘despedida da infância’ para nós duas”.
Aline Lira Pontual, 40 anos
Corretora e diretora na empresa Lar com Elas; mãe da Catarine, de 7 anos.
“Fiz o curso de TTI enquanto gestava minha filha, mas só comecei a atuar no mercado quando ela completou 1 ano de idade. E um dos motivos de escolher o mercado imobiliário para trabalhar foi exatamente a flexibilidade de horário, uma vez que eu tinha uma criança de 1 ano em casa e no papel de mãe solteira.
Neste momento de pandemia, essa flexibilidade, inclusive, me deu condições de continuar dando atenção para ela. Minha filha passou o ano com aulas online e ela sempre é a minha prioridade, então, por meio período do dia, eu era exclusivamente mamãe e, nas horas vagas, corretora de imóveis.
Essa foi uma época bastante desafiadora, com uma criança cheia de energia e sendo alfabetizada a distância, eu sem as habilidades necessárias para ser professora da minha filha somado ao estresse de não poder trabalhar. Porém, a principal lição é que, no final de tudo, o que realmente vale e importa é a nossa família e a nossa saúde”.
Elisa Tawil, 39 anos
Growth e Onboarding Specialist na eXp Brasil, mãe de Cora, 7 anos, e Josh, 5 anos.
“Meus dois filhos nasceram enquanto eu estava trabalhando na Tishman Speyer, que é uma multinacional. Foi muito interessante porque, quando entrei na Tishman, já queria engravidar, e logo que comecei a trabalhar lá, um mês depois, descobri que estava grávida da Cora. Fiquei me sentindo super mal de ter entrado em uma empresa e logo ter descoberto a gravidez, inclusive, fiquei constrangida de avisar minha chefe, mesmo ela sendo mulher, pois tinha uma sensação de que iam achar que eu estava me aproveitando daquele momento.
Lembro de ter um sentimento muito dividido de ter a felicidade de estar grávida, que era algo que eu já queria há muito tempo, mas, ao mesmo tempo, me sentindo culpada, e acredito que este é um sentimento que muitas mulheres sentem, quando precisam contar na empresa que estão grávidas. Como eu estava em meio a muitas negociações importantes, continuei trabalhando mesmo no período da licença. Eu ia para a empresa com meu pai junto. Era ele quem ficava com a minha filha e eu saía da reunião para amamentar. Então, passei minha licença-maternidade muito focada no trabalho e muito envolvida
Quando tive meu segundo filho, dois anos depois, a notícia também foi bem recebida na empresa, mas tive uma pneumonia, com 8 meses de gravidez, e muita coisa começou a mudar. O mercado estava diferente, estava começando a ficar muito mal com a crise, e quando eu voltei da licença-maternidade do meu segundo filho, pra mim, uma chavinha mudou e muita coisa começou a não fazer mais sentido, e foi aí que eu decidi empreender. Resolvi abrir a minha própria empresa e trabalhar empreendendo no setor imobiliário e aí foi muito duro porque foi aí que eu realmente percebi o que era ser uma mulher no mercado imobiliário e aí que nasce também o movimento Mulheres do Imobiliário, de perceber ser uma mulher, mãe e empreendedora. Só agora que voltei ao mundo corporativo”.
Michele Albuquerque Mota, 39 anos
Corretora autônoma em Manaus (AM); mãe de Maria Beatriz, 22 anos, e Maria Eduarda, 17 anos.
“Antes de ser corretora de imóveis, eu era do lar. À medida que minhas filhas foram crescendo, decidi iniciar na carreira, por entender que era uma profissão que me dava flexibilidade para conciliar meus horários de trabalho com a rotina delas. Então, comecei a atuar como corretora em 2011, quando elas tinham 13 e 7 anos, respectivamente. Desde então, minha relação com a maternidade e a vida profissional se completam.
Como as meninas já eram grandinhas quando comecei a trabalhar na área, elas sempre souberam e sempre entenderam o que era a minha profissão. Era normal elas ouvirem que eu estava de plantão ou eu falando ‘estou indo ver um cliente’, ‘estou indo fazer a captação de um imóvel’, ‘estou indo ao cartório’, ‘estou indo pegar um contrato de financiamento bancário’. Ou seja, sempre tiveram contato com o cotidiano de um profissional de corretagem, então cresceram entendendo qual era a minha profissão .
Com isso, sempre consegui conciliar os horários das minhas filhas com os horários dos meus clientes. Mesmo agora que elas já são grandes, consigo ter tempo de fazer algumas atividades com ela, mesmo que surjam imprevistos de vez em quando. Até quando isso acontece, elas não se sentem substituídas pelo trabalho, pois sabem muito bem que eu preciso estar sempre disponível para a minha profissão como corretora, principalmente por ser autônoma. Ainda assim, isso jamais diminuiu a minha função como mãe, pois o máximo de tempo que eu posso ter disponível para elas é delas”.
Giovanna Carrilho, 32 anos
Líder de marketing da MGQ Construtora; mãe da Filippa, de 3 anos.
“Quando a Filippa nasceu, eu já atuava no mercado imobiliário, porém eu tinha uma agência e tinha construtoras como clientes. Com a maternidade, percebi que não queria mais seguir como empreendedora de agência de marketing, decidi encerrar as atividades e passei a trabalhar como autônoma integrada com a equipe de vendas da MGQ Construtora.
Acredito que ser autônoma no mercado imobiliário dá mais flexibilidade de horários e o grande desafio está em dosar o equilíbrio em ser multitarefas, ser produtiva, ter foco e bons resultados usufruindo desta liberdade de horários. A flexibilidade me permite estar presente, participando ativamente do dia a dia da minha filha e fazer alguns períodos de home office, o que contribui muito para a dinâmica da rotina.
Essa flexibilidade tem ajudado na pandemia, inclusive. Mas, confesso que esse período tem sido muito desafiador e a produtividade cai com tantas interrupções ao longo do dia no home office. Também tem a culpa por não dar toda atenção que eu queria a ela, o excesso de telas junto com a explicação de que a mamãe está em casa, mas está trabalhando e não está disponível o tempo todo para brincar.
Com isso, acredito que a maior lição é alinhar expectativas. Não dá para esperar que eu consiga fazer tudo porque o cenário é outro, então alinhar a lista de afazeres com a realidade possível ajudou muito nesse processo. Outro ponto é entender que não tenho controle de tudo e que não conseguirei fazer tudo sozinha, então pedir ajuda e ter rede de apoio foi fundamental para conseguir conciliar melhor, ter momentos de mais qualidade tanto no maternar quanto na carreira”.
Tudo certo! Continue acompanhando os nossos conteúdos.
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